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COVID-19 provocará 500 milhões de novos pobres e menos 700 mil milhões de dólares para ajuda ao desenvolvimento

As estimativas e dados são da OCDE, com o novo relatório que detalha os impactos prováveis da pandemia COVID-19, produzido pela equipa da Direção da Cooperação para o Desenvolvimento.

A pandemia da COVID-19 provocou a recessão económica mais grave em quase um século e está a originar enormes prejuízos para a saúde, emprego e o bem-estar das pessoas.

 

Para os mais pobres e vulneráveis, a situação agrava-se ainda mais com a previsão de uma quebra de 700 mil milhões de dólares de financiamento para os países em Desenvolvimento já neste ano de 2020.

 

As projeções da OCDE indicam que, mesmo no cenário mais otimista, o Investimento Direto do Exterior (IDE) cairá pelo menos 30%.

 

 

Principais conclusões do Relatório “O impacto da crise do coronavírus (COVID-19) no financiamento do desenvolvimento”

 

 

  • A crise provocada pela COVID-19 está a atingir as economias em desenvolvimento num momento crítico. Antes da crise, o financiamento já estava aquém das necessidades para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030 e o espaço fiscal estava limitado pelo aumento dos níveis da dívida pública e dos custos em serviços.
  • A crise provocada pela COVID-19 está a gerar o risco de enormes cortes no financiamento ao desenvolvimento sustentável. A mobilização de recursos internos sofrerá à medida que a atividade económica for reduzida. Prevê-se que as entradas de financiamento privado externo caiam 700 mil milhões de dólares em comparação com 2019, excedendo o impacto da Crise Financeira Global de 2008 em 60%. O espaço fiscal deverá diminuir com o aumento dos gastos domésticos e flutuações da taxa de câmbio em relação ao dólar.
  • No curto prazo, a Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) deve ser alavancado para contrabalançar a queda de outras fontes de financiamento. Os recursos já escassos, aliados ao impacto económico da crise, implicam que as economias em desenvolvimento possam ter dificuldades em financiar a saúde pública e respostas sociais e económicas adequadas. Nenhuma fonte única de financiamento, por si só, será suficiente para fechar o déficit de financiamento devido à COVID-19.
  • No médio prazo, os atores da APD e restantes financiadores e atores precisam de colaborar de forma próxima para “melhor reconstruir” e para criarum mundo mais equitativo, sustentável e resiliente. No financiamento do desenvolvimento, enquanto a mobilização de recursos internos permanecerá a única fonte viável de financiamento a longo prazo para muitos bens e serviços públicos, a recuperação de fundos exigirá a ação de todas as fontes de financiamento com o objetivo comum de ajudar as estratégias nacionais de desenvolvimento sustentável.

 

 

Já estávamos perante um défice de ajuda ao desenvolvimento para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS): para serem alcançáveis em 2030, era preciso um financiamento adicional de 2,5 biliões a 3 biliões de dólares.

 

Segundo Jorge Moreira da Silva, diretor de Cooperação para o Desenvolvimento da OCDE, “agora é preciso saber se vamos olhar para a crise como uma desculpa para deixar cair os braços em relação aos ODS ou, pelo contrário, se vamos encontrar na crise a esperança e a oportunidade para tratarmos das crises que já existiam antes da pandemia.

 

Esta crise soma-se a outras como a climática, da biodiversidade, dos refugiados, da pobreza extrema, das desigualdades. Como todos temos de lidar com a crise dentro de casa, há o risco de encontrarmos nisso a desculpa certa para não olhar a crise em termos globais.

 

Estamos perante um grande dilema, que não deve ser apenas colocado aos governantes, mas é preciso que os cidadãos vejam que esta crise precisa de uma cidadania global. Como consumidores, contribuintes e eleitores, vamos ter de fazer uma escolha decisiva: se queremos salvar apenas os nossos e o nosso país, e colocar aí toda a nossa ambição e limitar-nos ao nosso quintal, ou se vamos ter a ousadia de dizer que isso não é suficiente, que os que já estavam para trás não podem ficar ainda mais para trás.

 

Sabemos que crises, como estas, nos podem aproximar, mas também nos podem afastar. Eu espero que os países desenvolvidos tenham noção de que não se trata apenas de financiamento, mas de um investimento na cooperação e multilateralismo e que a ausência dessa missão e desse comprometimento terá consequências na relação entre os povos, entre os estados e os cidadãos. Espero que este seja o momento das grandes lideranças.”

 

 

Fonte da informação e links para consulta:

» Relatório “O impacto da crise do coronavírus (COVID-19) no financiamento do desenvolvimento

» “Evitando o colapso do financiamento do desenvolvimento” – artigo de Jorge Moreira da Silva no site da OCDE

» “Há o risco de colapso financeiro na ajuda ao desenvolvimento” – entrevista a Jorge Moreira da Silva ao Dinheiro Vivo

 

 

Conheça o trabalho de resposta da Oikos à COVID-19