Institucionais

Nova Parceria Global para a Eficácia da Cooperação para o Desenvolvimento

Comunicado de Imprensa Oikos
05/12/2011

 

Cerca de 2000 líderes mundiais (representantes de Governos, de administrações públicas, de Organizações multilaterais e bilaterais e das Sociedades Civis) dos países doadores e dos países em desenvolvimento, reuniram-se de 29 de Novembro a 1 de Dezembro, em Busan, na Coreia do Sul para o 4.º Fórum de Alto Nível sobre a Eficácia da Ajuda. No documento final registam-se alguns progressos interessantes. Com base nestes, Oikos apela ao Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação a efectiva adopção dessas medidas na política nacional de cooperação.

 

Lisboa, 05 de Dezembro de 2011 – Num mundo conturbado do ponto de vista político, financeiro, económico e social, os líderes mundiais declararam que estão unidos numa nova parceria global que é mais alargada e mais inclusiva que as anteriores e é assente em princípios partilhados, objectivos comuns e compromissos diferenciados para um desenvolvimento internacional mais eficaz.

 

Marcado pela diversidade de agendas (a anfitriã Coreia do Sul a colocar o enfoque na educação como receita para combate à pobreza, o Quénia na luta contra a corrupção, os EUA na capacitação da mulher e na igualdade de género, entre muitas outras perspectivas) foi possível chegar a um sólido consenso sobre os novos rumos para um desenvolvimento eficaz. Contudo, a adesão à Declaração de Busan por parte dos agentes da Cooperação Sul-Sul (como é o caso da China e do Brasil) incluídos pela primeira vez neste tipo de acordos, é meramente voluntária.

 

São de assinalar algumas novidades entre as características desta nova Parceria Global para a Eficácia da Cooperação para o Desenvolvimento:

 

Assenta formalmente nos Direitos Humanos, designadamente na igualdade de género, no direito a um trabalho decente e à sustentabilidade ambiental.

 

Inclui, na futura definição das políticas e agenda da cooperação e sua monitorização, outros agentes como o Sector Privado e a Sociedade Civil, conferindo neste caso, um papel importante aos Parlamentos.

 

Reafirma o carácter progressivo (scale up) da cooperação para o desenvolvimento, isto é, afirma que não podem ter lugar reduções de recursos afectos ao desenvolvimento sob o risco da cooperação não ser eficaz.

 

Aposta em novas e variadas formas de financiamento da cooperação.

 

Reforça os princípios dos anteriores Fora de Alto Nível, designadamente o princípio da apropriação (ownsership), do enfoque nos resultados, do reconhecimento das Organizações da Sociedade Civil como actores independentes da Cooperação e dos princípios da responsabilização mútua e da transparência.

 

Defende a criação de quadros comuns de gestão de riscos e de instrumentos partilhados de avaliação de impacto com base em indicadores comuns de desempenho e de resultados.

 

Promove a criação de sistemas comuns de estatísticas para monitorização de resultados.

 

Defende a aceleração dos processos de desligamento da ajuda.

 

Estabelece como meta a aceleração dos esforços para atingir a igualdade de género e o empoderamento das mulheres.

 

Defende uma melhoria na disponibilização e acessibilidade ao público da informação relacionada com a cooperação para o desenvolvimento, nomeadamente através da adesão a mecanismos de transparência que favorecem a previsibilidade da ajuda, que reforçam mecanismos de reporte estatístico como o da CAD-OCDE.

 

Encoraja a Sociedade Civil a também pautar a sua actuação pela eficácia, designadamente através da adesão e cumprimento dos Princípios de Istambul e da International Framework for CSO Development Effectiveness.

 

Reforça a luta contra a corrupção promovendo uma cultura de “tolerância zero” face ao branqueamento de capitais, evasões fiscais e outros fluxos financeiros ilegais

 

Garante coerência, transparência e previsibilidade nas abordagens às alterações climáticas, ao respectivo financiamento e sua interligação com a cooperação para o desenvolvimento.

 

Portugal cuja delegação, presidida pelo Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Dr. Luís Brites Pereira, esteve presente, e subscreveu a Declaração de Busan. Fê-lo num momento em que não existe (ou não é conhecida) uma opção política do Governo na área da cooperação para o desenvolvimento. Não há, pois, uma orientação estratégica para a cooperação.

 

Como contributo para a definição de uma política de cooperação, a Oikos – Cooperação e Desenvolvimento, apela ao Governo Português para que estes compromissos assumidos internacionalmente por Portugal orientem a cooperação portuguesa. Esperamos assim que:

 

  • Seja promovido e encorajado o envolvimento efectivo da Sociedade Civil (designadamente através da Assembleia da República) na definição, implementação e monitorização da Cooperação para o Desenvolvimento;
  • Não haja redução do investimento na Cooperação para o Desenvolvimento (scale up);
  • Não haja subordinação ou ligamento da ajuda a outros interesses que não os interesses específicos da ajuda e na óptica dos destinatários;
  • Haja maior transparência na apresentação das informações sobre a cooperação para o desenvolvimento (desde as intenções políticas aos fundos despendidos e resultados obtidos) e adesão a instrumentos comuns de promoção da transparência como o IATI em complemento aos instrumentos estatísticos do CAD-OCDE;
  • Exista determinação na luta contra a corrupção e uma cultura de “tolerância zero” face ao branqueamento de capitais, evasões fiscais e outros fluxos financeiros ilegais;
  • O Estado reconheça a pluralidade e autonomia de iniciativa das Organizações da Sociedade Civil, vocacionadas para a Cooperação (ONGD), ao mesmo tempo que pratique o princípio da Subsidiariedade, garantindo o apoio aos seus programas e projectos, sempre que sejam portadores de uma maior eficácia e de resultados na erradicação da pobreza e na promoção do desenvolvimento, pois, afinal, agora conferir eficácia à cooperação para o desenvolvimento é um imperativo de Direitos Humanos.

 

» Leia aqui a versão integral do Busan Partnership Agreement

» Para mais informação sobre o 4.º Fórum de Alto Nível de Busan

Sobre a Oikos

 

A Oikos – Cooperação e Desenvolvimento é uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesa, constituída em 1988. Em 1992, o Estado Português reconheceu-lhe o estatuto de Pessoa Colectiva de Utilidade Pública e, em 2000, foi-lhe atribuído o Estatuto Consultivo junto do Conselho Económico e Social das Nações Unidas (ECOSOC).

 

Tem como missão erradicar a pobreza extrema e garantir que todas as pessoas usufruam do direito a uma vida digna. Trabalhando nas áreas de Acção Humanitária, Vida Sustentável e Cidadania Global, actua através de delegação própria em Cuba, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Moçambique, Nicarágua, Peru e Portugal.

 

Contacto para mais informações

Marisa de Freitas David – Coordenadora de Comunicação

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