A comunidade de Namau aguardava ansiosa pela chegada do helicóptero que trazia a equipa incumbida de preparar a comunidade e avaliar as condições logísticas para a distribuição de alimentos que vai acontecer hoje, dia 5 de Junho. A aldeia de Namau distancia-se a 10 minutos de helicóptero da cidade de Pemba, uma das mais afetadas pelo ciclone Kenneth, mas a longas 10 horas por via terrestre através de uma estrada “impossível” e insegura, até ao centro de distribuição alimentar da Oikos em Metuge.
Tentando ultrapassar as condicionantes de acesso e segurança por via terrestre e em estreita coordenação com o PAM – Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (World Food Program), a Oikos não desistiu de chegar a esta comunidade no extremo norte do litoral do distrito onde vai fazer distribuição de alimentos a cerca de 3000 pessoas, distribuídas pelas aldeias de Namau, Soco e Situ, que ainda não receberam até agora assistência alimentar. Irá uma equipa e os bens alimentares por helicóptero e toda a equipa de suporte vai fazer a travessia por barco até chegar às comunidades.
Esta zona afetada pelo ciclone Kenneth tem um grave problema acrescido de acesso para a ação humanitária: a segurança. Grande parte da região está em alerta vermelho com grandes restrições de segurança impostas pelo Governo e Nações Unidas, devido à violência e ataques por grupos organizados. Estas áreas tornam o acesso e o apoio humanitário ainda mais difícil.
O PAM restringiu o acesso a muitas destas áreas e selecionou rigorosamente os parceiros com quem atuar. A Oikos é a única ONG portuguesa a quem foi entregue esta responsabilidade, sendo que está a fazer este mesmo trabalho nas zonas afetadas pelo ciclone Idai tendo já garantido assistência alimentar a cerca de 65 mil pessoas.
Além da distribuição de alimentos a Oikos está a preparar ajuda humanitária que inclui a distribuição de bens de primeira necessidade não alimentares, acesso a água potável e abrigo nas áreas afetadas por ambos os ciclones.
Moçambique passa por uma destruição como nunca antes, com a primeira vez na história de dois fortes ciclones tropicais na mesma temporada. Moçambique não precisa de ribalta nem holofotes, mas precisa de trabalho continuado para se conseguir reconstruir um país que perdeu o chão. E o teto. Literalmente.
A distribuição em Namau dia 6 de Junho…
5 horas da manhã e o sol desponta na praia do Wimbe, local de saída do barco que levará a equipa da Oikos à aldeia de Namau. Deixamos o mar pelas costas e antevemos a aldeia à distância, aparentemente adormecida. Mas esta há muito que já se encontra desperta, em atividades rotineiras de agricultura de subsistência, pesca artesanal e pequena venda de produtos. Hoje celebra-se o Ide nesta localidade e o cântico lento da mesquita acompanha-nos em todo o percurso.
Passámos pela aldeia até ao campo de futebol transformado em pista de aterragem para o helicóptero que em breve começará a trazer a tão desejada carga de alimentos.
À nossa passagem, as caras curiosas e expectantes das famílias de Namau. Chegou a primeira carga de arroz, lentilhas e óleo. A população disponibilizou-se para ajudar a descarregar a comida porque serão precisas cerca de 6 viagens, 1 por hora, para se poder distribuir alimentos para 592 famílias.
Há muito espírito de solidariedade e partilha e sentimos o privilégio de poder estar nesta aldeia hoje, que ainda não tinha recebido qualquer assistência alimentar após a passagem do ciclone Kenneth.