Neste momento de reflexão sobre o legado do Papa Francisco, as suas palavras nas encíclicas Laudato Si’ e Laudate Deum ecoam com força profética. Face a um mundo que “está em colapso e pode estar a aproximar-se do ponto de rutura”, os seus ensinamentos oferecem uma bússola indispensável para a ação.
O Papa Francisco deixou-nos um apelo contundente por:
1. Ecologia Integral e Justiça Socioambiental: Reforçou incansavelmente que a crise ambiental e a crise social são inseparáveis. O cuidado pela natureza exige justiça para com os mais pobres, que, sendo os menos responsáveis pela crise climática (de origem inequivocamente humana), são quem mais sofre as suas consequências devastadoras. O “grito da terra” é o “grito dos pobres”.
2. Superação do Paradigma Tecnocrático e dos Interesses Económicos: Criticou veementemente a ilusão de que a tecnologia, por si só, resolverá os problemas ambientais, alertando que esta abordagem mascara as causas profundas ligadas a um modelo económico focado no “maior lucro possível a um custo mínimo e no menor espaço de tempo”. Insistiu na necessidade de mudanças éticas, de estilos de vida e de modelos económicos que respeitem a dignidade humana e os limites do planeta.
3. Uma Cooperação Internacional Eficaz e Renovada: Denunciou a “fraqueza da política internacional” e a má implementação dos acordos climáticos por falta de mecanismos eficazes de monitorização e sanção. Apelou a uma reconfiguração do multilateralismo, que seja mais democrático, “a partir de baixo”, e capaz de criar “organizações mundiais mais eficazes, dotadas do poder de prover ao bem comum global”.
4. Apoio Concreto aos Países em Desenvolvimento: Sublinhou a injustiça histórica das emissões e a necessidade de os países mais ricos assumirem a sua responsabilidade. Defendeu mecanismos claros e eficazes, como o financiamento de “perdas e danos”, para apoiar as nações mais vulneráveis a adaptarem-se e a enfrentarem os impactos climáticos que já sofrem. Apelou a formas “vinculativas” e monitorizadas de transição energética.
Como mencionou João José Fernandes, Presidente do Conselho Diretivo da Oikos, «A visão do Papa Francisco, expressa na Laudato Si’ e reforçada na Laudate Deum, inspira profundamente a missão da Oikos. O seu apelo a uma responsabilidade partilhada, à cooperação genuína e à solidariedade para com os mais vulneráveis continua a ser um farol para todas as pessoas de boa vontade, crentes e não crentes, que trabalham por um mundo mais justo, pacífico e sustentável.