Oikos preocupada com alterações climáticas
17 Jan 2011
A Oikos – Cooperação e Desenvolvimento é uma Organização portuguesa, voltada para o mundo que trabalha com comunidades de regiões e países mais pobres, independentemente da sua localização geográfica. Conhecer mais sobre a vulnerabilidade e o impacto potencial das alterações climáticas, e desenvolver capacidades locais de adaptação a um clima em mudança é o objectivo do seu novo projecto.
Este é um projecto regional, abrangendo a eco-região do Golfo de Fonseca, que integra territórios de três estados centro-americanos: Nicarágua, Honduras e El Salvador.
Em cinco anos, esta iniciativa vai fortalecer as capacidades locais de 300 funcionários públicos, 60 representantes de empresas privadas e 150 instituições sociais, incluindo cooperativas, redes e associações, de modo a que possam apoiar na temática de adaptação às alterações climáticas uma população de cerca de 800.000 pessoas, distribuídas em 19 municípios do Golfo de Fonseca.
Orçado em 1,3 milhões de euros, este projecto irá apoiar as autoridades do Golfo de Fonseca na gestão sustentável dos recursos ambientais, integrando temas como a adaptação às alterações climáticas, mitigação de emissões de CO2 e a redução da vulnerabilidade perante catástrofes naturais.
A acção propõe introduzir uma nova abordagem, baseada em projecções científicas e económicas sobre a vulnerabilidade da região, que apoia o desenho e implementação de planos de acção, a tomada de decisões adequadas e o estabelecimento de prioridades em termos de respostas adaptativas aos efeitos da mudança climática, particularmente em comunidades mais ameaçadas.
Os principais beneficiários serão os moradores dos municípios que circundam a bacia do Golfo de Fonseca: La Unión, em El Salvador; Chinandega, na Nicarágua; Choluteca e Valle, nas Honduras.
O projecto, com duração prevista até 2016, será implementado pela Universidade Centro-americana (UCA), através do seu Centro de Investigação de Ecossistemas Aquáticos (CIDEA), em parceria com a Oikos e com as Organizações latino-americanas Funsalprodese, Icade, Nitlaplan, Adepes e a Organização italiana GVC.
Alterações climáticas – o contexto na América Central
A América Central é responsável por menos de 0,5% das emissões globais de CO2, mas, apesar disso, é uma das regiões mais afectadas pelas alterações climáticas. Estima-se que aumentos da temperatura atmosférica e da água do mar (entre 0,4º e 1,8º em 2020), a redução da precipitação (até 15% em 2020) e um regime de chuvas mais instável, a subida do nível do mar, (entre 0,18 e 0,59m antes de 2100), irão afectar fortemente a produção primária, as infra-estruturas, a saúde e os meios de subsistência destas populações.
Na Costa Ocidental, os últimos dados mostram tendências estáveis em variáveis meteorológicas fundamentais, em especial uma menor precipitação anual e aumentos significativos (até 1ºC) da temperatura atmosférica. Alguns dos aspectos climáticos mais estudados e potencialmente mais “sensíveis” às alterações climáticas (como as características da Oscilação Sul – El Niño, ou a temperatura da
Corrente do Golfo), são fortes determinantes da ocorrência de eventos climáticos extremos, que geram danos significativos por inundações costeiras e planícies, deslizamentos e secas.
A quantidade e diversidade de impactos obrigam a um desenvolvimento de mecanismos versáteis de preparação e resposta, e a uma adaptação tecnológica e institucional, com características de viabilidade e eficácia, num contexto de debilidade institucional e escassez de recursos materiais e financeiros.
O aumento da vulnerabilidade ambiental é visível na (i) degradação das zonas costeiras e condições fluviais, fruto da desflorestação dos bosques de Mangue (a maior área do Pacífico Centro-americano) e da erosão nas partes altas das bacias hidrográficas; (ii) da mudança no uso dos solo para actividades económicas e assentamentos urbanos; e (iii) de uma deficiente capacidade de gestão dos recursos hídricos, com elevada contaminação e desperdício do potencial de irrigação.
Actualmente, diversos factores que afectam a sustentabilidade dos sistemas de produção primária (exploração de madeira, moluscos, crustáceos, pesca artesanal e actividades agropecuárias em áreas de risco de desertificação) e a segurança alimentar das comunidades piscatórias e rurais (disponibilidade e qualidade da água, intrusão da água do mar nos aquíferos e salinização, ciclos de temperaturas, matéria orgânica e microbiologia do solo, entre outros) são considerados nos planos de gestão de risco estabelecidos para a variabilidade climática “normal”, agora agravada, e coincidem por isso com os eixos prioritários de uma estratégia mais efectiva de adaptação às alterações climáticas. São estas circunstâncias de elevada vulnerabilidade e os baixos recursos que colocam estas populações costeiras perante um risco de amplos custos económicos e sociais.